REPÓRTER . RUBENN DEAN MAT . 33.689-1RJ
MATÉRIA DO GOVERNO FEDERAL .
Reeleição de Dilma pode não ser a barbada que parece
Ela está entre os mais populares presidentes do mundo,
com um índice de aprovação - 79%, e subindo - que causa inveja em seus
colegas de países mais ricos, às voltas com crises da dívida e impasses
políticos.
E, no entanto, é inteiramente plausível que Dilma Rousseff não
consiga se reeleger como presidente do Brasil em outubro de 2014.
A presidente, de 65 anos, continua sendo a clara favorita, mas
a ameaça da alta inflacionária e do desemprego, um trio de adversários
competitivos na disputa e a possibilidade de um constrangedor fracasso
logístico na Copa fazem com que a candidatura de Dilma não seja a
barbada que alguns observadores apontam.
"Provavelmente vai ser a eleição mais competitiva no Brasil em
uma década", disse João Augusto de Castro Neves, analista da
consultoria Eurasia Group. "Se você for ver, a maioria dos ingredientes
para uma disputa acirrada está aí."
O principal ingrediente é a economia.
Sob certos aspectos, esse é o maior trunfo de Dilma. O
desemprego em fevereiro ficou em 5,6%, o menor já registrado para esse
mês. Os salários reais continuam crescendo, como vêm ocorrendo na maior
parte da última década, período em que a economia brasileira registrou
uma expansão histórica, tirando da pobreza cerca de 35 milhões de
pessoas, uma Califórnia inteira.
O sucesso passado e presente explica por que a aprovação de
Dilma voltou a subir na última pesquisa encomendada pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI), no mês passado, quando o índice chegou a
79%. Para 63% dos entrevistados, o governo dela é ótimo ou bom.
Se esses números se mantiverem, Dilma será praticamente
imbatível. Castro Neves citou um estudo do instituto Ipsos, que examinou
mais de 200 eleições mundo afora nas últimas duas décadas, e concluiu
que líderes com aprovação superior a 60% têm 90% de chances de serem
reeleitos.
No entanto, não muito abaixo da superfície, há
claros problemas econômicos que podem vir à tona e prejudicar Dilma,
corroendo essa invejável aprovação quando a campanha eleitoral ganhar
fôlego.
Quanto dura ?
O vilão mais provável, embora não o mais perigoso, é a inflação.
A inflação acumulada em 12 meses até meados de março chegou a
6,43% e deve subir ainda mais nos próximos meses. O Banco Central disse
na semana passada que vê 25% de chances de que a inflação feche o ano
acima de 6,5%, o teto da meta do governo.
O país é sensível a aumentos de preços, principalmente por
causa dos horrores do passado. Há apenas duas décadas, a hiperinflação
atingia mais de 2.500% ao ano, e as pessoas consideram que o sucesso
recente do Brasil só foi possível porque esse problema foi controlado.
A maioria dos eleitores ainda não se enfureceu com os aumentos
de preços, porque os salários têm crescido ainda mais - -por uma margem
média em torno de 3% no ano passado. Na pesquisa da CNI, 48% disseram
aprovar o comportamento de Dilma no combate à inflação, enquanto 47% o
reprovaram, resultado que foi uma surpresa positiva para alguns no
Palácio do Planalto.
Será que isso vai durar? Citando um membro da equipe econômica de Dilma: "Quem lhe disser que sabe isso está mentindo."
Isso porque a economia brasileira está se comportando
estranhamente, e não há manual que mostre para onde ela se encaminha. O
sólido crescimento da renda se estabilizou, porque o PIB cresceu apenas
2,7% em 2011, e 0,9% em 2012. Projeções de um crescimento de 3% neste
ano começam a parecer otimistas demais.
A popularidade de Dilma mostra que os eleitores brasileiros não ligam a
mínima para o PIB. Mas os líderes empresariais ligam, e são eles que
oferecem a maior parte dos empregos. E, com efeito, vários indicadores
do sentimento empresarial parecem abalados.
A Bolsa de São Paulo teve perdas de 7,55% entre janeiro e
março, pior primeiro trimestre em 18 anos, num momento em que os
mercados nos EUA estão disparando. A produção industrial caiu 2,5% em
fevereiro, seu pior desempenho desde o auge da crise financeira no final
de 2008, tolhendo as esperanças de que os numerosos pacotes de estímulo
econômico do governo Dilma tenham ajudado a indústria a se recuperar.
O consumo há anos salva a economia --graças ao crédito mais
barato e amplamente disponível. Mas a inflação alta provavelmente levará
o Banco Central a retomar a trajetória de alta dos juros a partir de
maio ou junho.
Então, a questão se resume ao seguinte: será que as empresas
brasileiras vão continuar gerando mais empregos e pagando melhores
salários se a economia entrar num terceiro ano consecutivo de
crescimento pífio, sem uma recuperação à vista, e ao mesmo tempo o
crédito se tornar mais caro e o consumo começar a se desacelerar?
A resposta pode muito bem ser "sim". Muitas empresas continuam
apostando que o futuro brasileiro, em longo prazo, permanecerá
brilhante.
Mas, se a resposta for "não", a inflação se
tornará uma questão política mais importante, e o maior risco à
reeleição de Dilma pode emergir: o desemprego. E aí a eleição de 2014
pode se tornar de fato interessante.
De olho na Copa do Mundo
Outra verdade inconteste sobre Dilma é que, embora ela seja
amplamente respeitada e até admirada, ela não é amada --pelo menos não
no mesmo nível que seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula
da Silva, que governou o Brasil de 2003 a 2010.
Tecnocrata, só foi disputar sua primeira eleição em 2010 e
ainda parece incomodada às vezes de falar a multidões. Mas Dilma
construiu sua imagem em torno da ideia de que seria uma sensata guardiã
da economia.
O lado negativo disso é que, se a economia desacelerar mais, não há muito mais para sustentar sua popularidade.
Na pesquisa CNI, ela se saiu melhor nos quesitos combate à
pobreza, fome e desemprego. Mas foi reprovada pela maioria na condução
da saúde pública (67%), segurança (66%) e educação (50%), questões que
estão se tornando prioridades mais relevantes à medida que mais gente
entra para a classe média.
Da mesma forma, a ênfase na competência administrativa como
principal qualidade de Dilma a deixa especialmente vulnerável a uma
situação de caos na Copa, que acontecerá apenas três meses antes da
eleição presidencial.
A Fifa já manifestou preocupação de que os estádios não fiquem
prontos a tempo, e o Brasil sofre com terríveis gargalos crônicos em
aeroportos, rodovias e redes de transportes públicos. Um grande colapso
logístico poderia ser usado pela oposição para desmontar o que é visto
como o maior trunfo da presidente.
Os desafiantes
Quanto a prováveis adversários competitivos na eleição, houve um aumento em relação a 2010, quando eles eram apenas dois.
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco,
Eduardo Campos (PSB), um aliado histórico que pode tirar votos de Dilma
no Nordeste, uma região que é um forte reduto dela, são os que tem
melhores chances.
Aécio e Campos são figuras de boa presença televisiva, que
podem se apresentar como candidatos capazes de manter programas sociais
populares, mas também mais favoráveis à iniciativa privada do que Dilma.
Ambos poderiam atrair doações de empresas que estejam interessadas em
mudança caso a economia siga estagnada no ano que vem.
Uma terceira candidatura, da ex-ministra de Lula e
ambientalista Marina Silva, parece que terá dificuldades em ganhar
impulso popular ou financeiro, mas pode ser capaz de tirar votos
suficientes de Dilma a ponto de provocar um desconfortável segundo
turno, como já fez em 2010.
Pesquisa Datafolha publicada em 22 de março mostrou Dilma
destruindo seus possíveis rivais, com 58% das intenções de voto, contra
16% de Marina, 10% de Aécio e 6% de Campos.
Mas a própria Dilma é prova de que as primeiras pesquisas não
contam muito no Brasil, já que muita gente só dá atenção à política
quando chega a época da eleição.
Quando faltavam 18 meses para a última eleição presidencial,
Dilma estava 30 pontos percentuais atrás do seu rival, José Serra (PSDB)
--provando, outra vez, que na disputa política tudo é possível.
jornalista
rubenn dean
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