REPÓRTER RUBENN DEAN . MAT.ABR.2013/0143 . DRT. 33.689-1RJ
Médicos brasileiros e Governos Federal, Estadual e Municipal é que merecem ser vaiados
Sei que você pode não acreditar, mas durante 20 anos eu fui um... dentista. Sim, é isto mesmo. Por duas décadas, cliniquei em consultórios de todos os tipos – dos mais simples e humildes até os ultramodernos e luxuosos -, fiz trabalhos de campo em comunidades carentes e trabalhei como voluntário em creches e orfanatos – algo que ainda faço até hoje de tempos em tempos, apesar de já ter deixado a profissão por conta de minhas inúmeras atividades jornalísticas, no rádio e na TV. E me aposentei com dor no coração, incapacitado em conciliar todas as minhas atividades em meu cotidiano profissional. Adorava a profissão e a sensação de estar propiciando a alguém coisas básicas como saúde, aumento da autoestima e a felicidade de um sorriso bonito. Isto não tinha preço. E ainda não tem.
Ao mesmo tempo, passei a conhecer muito bem como funciona os meandros e bastidores de minha área e, principalmente, do universo da Saúde estatal, dos planos de Saúde, dos convênios, do corporativismo, da política e de uma série de aspectos extraprofissionais que frequentemente me deixavam enojado. Vi com meus próprios olhos dentistas e médicos com posturas inacreditavelmente arrogantes em relação aos seus pacientes. Ouvi muitas barbaridades da boca de quem deveria zelar pela saúde da população. Frequentemente, me perguntava como um sujeito daqueles, que parecia ter dois diplomas – uma para si e outro para o seu próprio ego - tinha dedicado grande parte de sua vida aos estudos de uma profissão tão nobre e resultado em um ser humano desprezível, com a índole mais baixa que alguém pode demonstrar.
Escrevi tudo isto para dizer que venho acompanhando com certo interesse a história da “importação” de médicos cubanos para trabalharem aqui no Brasil e a reação da classe médica brasileira a respeito disto. Aqui mesmo no Yahoo você pode ler matérias a respeito disto
aqui e
aqui. Por isto, vou dar meus pitacos como conhecedor
in loco dos meandros da Saúde no Brasil...
Vejo muita gente chiando contra a presença dos tais médicos cubanos, mas ninguém atenta para o detalhe de que estes profissionais – que passam neste momento por uma bateria de testes para avaliação de suas capacidades operacionais - vão para mais de 700 cidades onde NENHUM filho da puta sequer de um médico - recém-formado ou não - quis ir até lá para trabalhar, mesmo sendo oferecido um salário de R$ 10 mil! NENHUM!
A coisa ultrapassou o senso de ridículo e caiu na vergonha alheia. Em Fortaleza, os médicos cubanos foram recebidos no aeroporto por colegas de profissão brasileiros com vaias e gritos de protesto. Uma verdadeira aberração!
Como é possível confiar em médicos que – a mando de uma elite que nunca dá as caras nestas horas - deixaram de trabalhar e atender seus pacientes para ir ao aeroporto vaiar colegas de outro país que vieram para cá para SALVAR VIDAS? Cheguei a ler profissionais dizendo que os cubanos “não são médicos e sim espiões e guerrilheiros”. Porra, estes caras vão espionar o quê? A incompetência e o descaso dos governos federal, estadual e municipal em oferecer condições mínimas para que a população possa ser atendida? A maneira como Prefeituras desviam verbas da Saúde para campanhas políticas e contas pessoais de vereadores e prefeitos? Vão guerrear contra o quê? Contra os empresários da Anitta e do Naldo para impedirem ambos de continuar a exibir suas aberrações musicais por aí? Só se for isso...
Para queimar ainda mais o filme dos doutores brasileiros, um dirigente de uma entidade médica altamente "respeitável" - João Batista Gomes Soares, presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais - disse publicamente uma barbaridade que deveria lhe render um processo: que um médico brasileiro não deveria prestar socorro a um paciente que porventura venha a ser vítima de um médico estrangeiro. Olhe que "beleza": um médico dizendo que um paciente deve ser deixado à morte!!! Absurdo total!
Quer saber de outra barbaridade? Então tome: mais da metade dos estudantes formados pelas faculdades de Medicina de São Paulo em 2012 foi reprovada em um exame do Conselho Regional de Medicina do Estado por não ter conseguido obter a nota mínima exigida - "6" se não me falha a memória. É mole? De quem é a culpa por este absurdo? Do aluno ou da escola? Bem, do paciente eu sei que não é... E se ele vier a ser vítima de um profissional deste naipe, tanto faz. Agora, pergunte se alguma associação médica ou mesmo esta turma que está ofendendo os cubanos gritaram contra tal absurdo. Nada. Nem um pio sequer...
Agora, também não adianta nada mandar médico cubano para o fim do mundo sem uma mínima infraestrutura de atendimento. Ao mesmo tempo em que medidas de emergência são tomadas, é urgente que também sejam acompanhadas de outras com relação aos aspectos estruturais, propiciando aos médicos pelo menos as mínimas condições para um bom atendimento aos pacientes. Algo que vem sendo negligenciado há séculos por TODOS OS GOVERNOS. Todos! Sem exceção! Vamos cobrar de quem merece ser cobrado, ou seja, querem fazer gritaria? Cobre o Governo Federal, Estadual e Municipal porra!
Só quem mora no interior de cidades miseráveis do Norte e Nordeste sabe do sofrimento para ser atendido por um único médico. Para estas pessoas, tanto faz se quem vai estar ali, prestando primeiros socorros ou tratando da doença de seus filhos, é um médico brasileiro, cubano ou marciano. Tudo o que esta população desprotegida é de um médico que seja... humano.
Infelizmente, a realidade no Brasil é a seguinte: neguinho se forma em Medicina e Odontologia e só quer saber de trabalhar em consultório chique na capital, frequentar ambientes grã-finos e viajar para a Europa uma vez por ano. Médicos hoje em dia – salvo raras exceções – se tornaram completamente dependentes de exames laboratoriais, que já vem com o diagnóstico pronto. Poucos são aqueles que, enquanto medem a pressão arterial e auscultam os batimentos cardíacos, vão conversando com o paciente para perceber qualquer sinal de psicossomático de uma provável enfermidade que ajude a fechar um diagnóstico. Sim, é aquele tipo de Medicina feito no passado, quando médicos sabiam exatamente o que a pessoa tinha sem precisar de 237 exames laboratoriais. Arrisco a escrever que o tipo de atendimento que estes profissionais cubanos farão em cidades onde NENHUM médico brasileiro quis trabalhar não requer ressonância magnética e ultrassonografia, e sim atenção, diagnósticos precisos e tratamentos imediatos.
Outra coisa: pouco importa se isto é uma manobra eleitoreira ou não do PT. Não se pode jamais dar mais importância às questões políticas do que em detrimento de um monte de gente morrendo no fim de mundo de cidades no interior do Norte/Nordeste sem qualquer tipo de atendimento. Ponto. Fim de papo.
Todos estes médicos que estão vaiando os colegas cubanos se esqueceram de seu juramento quando se formaram, que diz o seguinte: “Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário”.
Se um único médico cubano conseguir salvar uma vida que até então estava condenada pela ausência de um profissional brasileiro, então tudo já terá valido a pena. Agora, ficar de "mimimi" em consultório com ar condicionado e poltrona reclinável é de cair o c... da bunda, né?
jornalista . rubenn dean
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eddie rubenn dean murphy