Antes vetado, skate ganha pistas e espaço exclusivos nos condomínios.
“Proibição” e “skate” são duas palavras que comumente andam juntas em regramentos de condomínios brasileiros. Por décadas, o esporte foi em grande parte vetado e até motivo de discórdia entre vizinhos, mas a situação tem mudado. A prática não só conquistou mais reconhecimento, chegando até às Olimpíadas, como vem ganhando espaços dentro de empreendimentos e virou um atrativo para moradores — e de diferentes idades.
A dona de casa Alana Rodrigues Sales, de 31 anos, conta, por exemplo, que o filho João Guilherme, de 13, começou a praticar skate há três meses, quando a família se mudou para um edifício com pista. “Eu acho bom porque tirou ele do celular”, brinca.
O garoto, a mãe conta, ficou acordado até de madrugada para acompanhar o skate nas Olimpíadas. Ele pratica a modalidade quase exclusivamente no condomínio, com vizinhos. “Se deixar, fica 24 horas”, conta a mãe.
Há quase 30 anos no mercado de espaços para a prática desta modalidade, o arquiteto e skatista George Rotatori vê diversificação de interessados, incluindo representantes das classes média e alta. “É um despertar. O público está crescendo naturalmente, e isso tem reflexos em todos os lugares, nos condomínios, nos clubes. Estão abrindo escolinhas…”, explica.
“Com as Olimpíadas, o mundo volta os olhares para o skate definitivamente, como se as portas de todo o planeta fossem abertas para ele entrar. Como um dia o grafite saiu das ruas e foi para as galerias. É um ‘superpasso’. Dos anos 80 para cá, ele viveu muitos movimentos.”
Um exemplo é um projeto que Rotatori participou para um novo condomínio entregue no Brás, no centro expandido de São Paulo, no segundo semestre do ano passado. A pista de skate foi desenhada para atender tanto iniciantes quanto praticantes já experientes, com uma diferença de altura que vai de 30 centímetros a 2 metros.
Coordenadora de Desenvolvimento da incorporadora Gamaro, a arquiteta Maria Carolina Altheman Pierini explica que a pista foi pensada para atender todas as idades, como costumeiramente ocorre com piscinas. “Colocamos em um espaço afastado das áreas privativas (para reduzir problemas com ruído)”, comenta.
Coordenadora da construtora Porte, Nádia Bigliassi avalia que mesmo empreendimentos que detinham área suficiente antes não englobavam o skate. Mas isso tem mudado. Um dos projetos mais recentes da empresa incluiu um espaço para a prática, após a identificação de que ele poderia atrair o público jovem adulto. “O carro-chefe é a academia, a quadra poliesportiva e, agora, o skate.”
A situação se repete em outras empresas. Para um condomínio que começará a ser construído no ano que vem na zona sul paulistana, a MAC Incorporadora incluiu uma pista de skate pela primeira vez em pelo menos dez anos, afirma Andrea Possi, diretora de incorporação.
Proprietário da empresa de construção de pistas Skate Center, Edson Tuffi Junior conta que a demanda não é somente de novos empreendimentos, mas também de condomínios já existentes. Por vezes, a medida é vista como uma forma de organizar a prática, a fim de evitar conflitos, incidentes e afins. “Com a pandemia, chegou a parar (a demanda), mas voltou a ficar bombando de novembro para cá.”
Espaços para a prática da modalidade são diversos
Arquiteto e skatista, Fabio Lander explica que uma espaço para a modalidade pode ter diferentes tamanhos e características, com obstáculos, rampas e bowls (semelhantes a piscinas esvaziadas). A depender do uso, o espaço pode ser tanto móvel quanto fixo, embora as opções de concreto tenham maior durabilidade do que as de madeira.
Ele cita o caso de um condomínio que o procurou para criar um lugar para a prática do esporte. Como a área era estreita (um pouco mais larga do que uma calçada padrão), o arquiteto criou um “percurso skatável”, com obstáculos, como corrimãos, bancos e minirrampas. “As possibilidades dependem do que o cliente pode (espaço, investimento, público-alvo).”
Sócio-proprietário da empresa Overall e também skatista, o engenheiro civil Raphael Humberto Silva comenta que hoje há um entendimento maior do mercado de que esse tipo de projeto precisa ser planejado. Ele cita exemplos de obras públicas de pistas recentes que precisaram ser refeitas, porque eram quase impossíveis de usar ou até perigosas. “Tem de pensar no fluxo da pista, quais vão ser as linhas que vão ser executadas, para o pessoal não se trombar”, exemplifica.
Popularidade do skate está crescendo
A estreia da modalidade nos Jogos Olímpicos, com três medalhas conquistadas por brasileiros, ampliou buscas por termos relacionados na internet e em lojas de artigos esportivos, de acordo com empresas do setor. A expectativa é que aumentem os hoje cerca de 5,2 milhões de praticantes no País, dos quais 57% tem de 18 a 29 anos e 59% são do gênero masculino, segundo pesquisa Ibope Repucom divulgada neste mês.
Professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb) e autor do livro Para além do esporte: uma história do skate no Brasil, o historiador Leonardo Brandão percebe que a implementação de espaços em condomínios mostra como a prática está em um novo momento. “Nas propagandas, esses empreendimentos destacam ter pista de skate, acaba virando um cartão de visitas, um atrativo, mostra que o skate atende também aos anseios de uma classe média, da classe média alta...”
Ele aponta que o skate ganhou novos públicos também por meio da internet, com o compartilhamento de vídeos em redes sociais e afins. “Eles (os adeptos) filmam manobras, editam, colocam uma música…”, descreve.
Hoje, Brandão avalia, o esporte está em todas as capitais e em grande parte do interior. “A juventude atualmente está mais atraída pelo skate do que muitos dos outros esportes. Diferentemente de outras práticas tradicionais, ele está mais ligado à ideia de liberdade, que é um conceito-chave para a juventude”, aponta. “O skate não tem regras. Você vai tentar fazer o que quiser ou o que acha que consegue.”
Os Jornais/Revistas e outros meios de comunicação, teria que expor, que antes a galera que andava de skate, era tida como vagabundo/desocupado, mostrando aí que o tempo passa... as coisas se modernizam, e ainda queimam as línguas, em especial da sociedade conservadora em alguns aspectos. Minha Opinião: Jornalista/Repórter. Rubenn Dean Paul Alws "Petrópolis, Rio de Janeiro" Brasil!
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