PAPO RETO. Sem subterfúgios semânticos – já que o papo em linha reta é marca dos bezerristas –, o samba fala sobre o poder do tráfico atuando no fechamento forçado de casas de umbanda e candomblé dos morros: “Você que é o linha de frente e manda aqui na área / dita as regras para a rapaziada / se liga no papo e preste atenção / quando você chegou eu já estava / eu conheço a rapaziada / tenho respeito e consideração”. E vai apertando: “Malandragem, eu não sei o que aconteceu / tu cantava para Zé Pilintra / hoje mata em nome de Deus”. Ele se refere a criminosos que pertenceram a religiões afro-brasileiras, mas que se converteram às denominações evangélicas – o que não seria um problema se esses neo-evangélicos não continuassem no crime mandando fechar terreiros sob ameaça de morte. “Eu sou macumbeiro / respeite a minha religião /quem foi que te falou /que filho de santo tem imagem do cão?” E mais: “O estatuto da malandragem nunca mudou / quem bate cabeça também respeita o nome do Senhor”.
Outro samba tem o nome de É Tanta Palhaçada, feito por Douglas Chará, Guina Souza e Diego Henrique. Ítalo chegou a ser advertido para não gravá-lo, já que o País anda politicamente bélico, mas se lembrou de seu pai cantando “doa a quem doer, quem não gostou come menos”, e decidiu gravar. Ao tempo em que prepara o lançamento do primeiro single, Ítalo anuncia que vai passar com seu Tributo a Bezerra da Silva por Fortaleza, no Clube Náutico Atlético Cearense, dia 31 de julho. Quer fazer pelo pai o que muitos artistas que se recusam silenciosamente a gravá-lo não fazem.
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As melhores músicas de Bezerra da Silva, grande nome do partido-alto.
Bezerra da Silva foi uma figura icônica do nosso bom e velho samba. Com letras bem humoradas, o cantor, compositor e instrumentista foi um dos maiores nomes do partido-alto.
Usou de maneira muito original o samba como instrumento para falar sobre as questões sociais dos morros do Rio de Janeiro, lugar onde viveu boa parte de sua vida, além de retratar em suas músicas a figura do malandro.
Seus primeiros passos na música foram dados a partir do coco de Jackson do Pandeiro. Depois, o sambista foi tocar tamborim na bateria do bloco carnavalesco Unidos do Cantagalo.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas, Bezerra da Silva conseguiu conquistar seu lugar de merecimento dentro da história do samba.
Por isso, nada melhor do que a gente relembrar juntos alguns de seus maiores sucessos!
As melhores músicas de Bezerra da Silva
Aumenta o volume, porque o partido-alto de Bezerra da Silva vai começar!
A Semente
A televisão brasileira na década de 80 não se preocupava muito com o politicamente correto. Imagine Bezerra da Silva cantando a música A Semente no programa infantil da Mara Maravilha?
Foi exatamente isso que aconteceu quando o cantor lançou o disco Justiça Social, em 1987, e foi no programa cantar o samba no meio da garotada.
Malandro É Malandro e Mané É Mané
Um clássico do samba de raiz, Malandro É Malandro e Mané É Mané ficou eternizada na voz do grande Bezerra da Silva, mas foi composta por Neguinho da Beija-Flor.
Samba perfeito pra mandar aquela indireta, né não?
Candidato Caô Caô
Candidato Caô Caô conta a história de um político que decide subir o morro perto da época de eleições.
A música, escrita por Walter Meninão, foi inspirada em um calote que ele próprio levou de político que contratou o grupo de capoeira que ele comandava, mas nunca pagou.
Candidato Caô Caô faz parte do disco Violência Gera Violência, lançado em 1988.
O guia que estava incorporado
Disse esse político é safado
Cuidado na hora de votar
Malandragem Dá Um Tempo
Lançada dentro do álbum Alô Malandragem, Maloca o Flagrante, de 1986, Malandragem Dá Um Tempo faz a alegria da galera nos sambas de roda e é um dos maiores sucesso de Bezerra da Silva.
Vou apertar
Mas não vou acender agora
Se segura malandro
Pra fazer a cabeça tem hora
Bicho Feroz
Os sambas de Bezerra da Silva ficaram conhecidos pelo bom humor, muito presente em cada letra.
Bicho Feroz, música de 1985, é mais uma que mostra o jeitão de cantar do malandro.
Se Leonardo da Vinte
Fazendo um trocadilho com o nome do pintor Leonardo da Vinci, a música Se Leonardo Da Vinte faz parte do disco lançado em 2000, Bezerra da Silva Ao Vivo.
Mesmo apertando na encolha
Malandro!
Pinta a sujeira depois
Sequestraram Minha Sogra
Música de 1991, Sequestraram Minha Sogra foi composta por Barbeirinho do Jacarezinho e Sarabanda. Acabaram com a figura da sogra em mais um samba hilário de Bezerra.
Sequestraram minha sogra, bem feito pro sequestrador
Ao invés de eu pagar o resgate, foi ele quem me pagou
A Fumaça Já Subiu Pra Cuca
A Fumaça Já Subiu Pra Cuca, composição de Adelzonilton e Tadeo do Cavaco, a música fala sobre a polícia que foi chamada, mas não conseguiu fazer o flagrante porque a erva já tinha virado fumaça.
Defunto Caguete
Imagina um morto que não dá sossego e continua caguetando as pessoas?
É sobre isso que fala o samba Defunto Cagüete, lançado em 1984, composição de Adezonilton Franco Teixeira e Ubirajara Lúcio.
Vítimas da Sociedade
O ladrão está escondido lá embaixo atrás da gravata e do colarinho
Bezerra manda o recado em Vítimas da Sociedade, música que faz parte do disco Malandro Rife, lançado em 1985.
O Virus da Corrupção
Em O Virus da Corrupção, Bezerra faz novamente uma crítica aos políticos que sobem o morro apenas no período das eleições.
A música faz parte do disco Meu Samba É Duro Na Queda, de 1996.
Meu Bom Juiz
Meu Bom Juiz é uma composição de Beto Sem Braço e Serginho Meriti e fala sobre um traficante já falecido, o Escadinha.
A letra diz que Escadinha era bom para a comunidade e não tão ruim como apontavam.
Pai Véio 171
Se você quer criar uma playlist com as melhores do partido-alto, vale a pena incluir a divertida Pai Véio 171.
A música foi composta por Geraldo Gomes e dá pra garantir a alegria da roda da samba!
Erva Proibida
Bezerra da Silva canta Erva Proibida com o Planet Hemp, parceira que ocorreu em 2003 e agradou tanto os sambista quanto os roqueiros.
Conheça um pouco da história de Bezerra da Silva
Nascido no Recife em 1927, José Bezerra da Silva foi um dos maiores nomes do samba. Ele se destacou principalmente no estilo partido-alto, um dos mais tradicionais, surgido no início do século 20 quando o samba do Rio de Janeiro começou a se modernizar.
O garoto Bezerra da Silva decidiu ir para a Cidade Maravilhosa aos 15 anos com o intuito de buscar uma vida mais digna e encontrar o pai. A aventura se transformou em uma longa viagem dentro de um navio que transportava açúcar.
Chegou ao Rio apenas com a roupa do corpo e não conseguiu ter um bom convívio com o pai; acabou tendo que enfrentar tudo sozinho. Não demorou para se familiarizar com o jeito carioca de ser e acabou trazendo as vivências do povo do Rio, principalmente dos morros e favelas, para a sua música.
Ficou conhecido por retratar o estilo do malandro, sujeito que escolhe viver a vida de um jeito de diferente, um tanto à margem da sociedade e sem se preocupar em seguir o roteiro da maioria.
Em 1969, Bezerra da Silva gravou seu primeiro trabalho. Apesar do talento, foi um artista muito ignorado pela indústria fonográfica, tanto que chegou a viver um período nas ruas de Copacabana.
Ao longo de sua carreira, lançou cerca de 28 discos e vendeu mais de 3 milhões de cópias. Bezerra faleceu em 2005 por conta de complicações no pulmão.
Que tal saber mais sobre a história do samba?
Que o samba é o nosso patrimônio cultura ninguém duvida! Depois de conhecer um pouco sobre um dos maiores cronistas do morro, que tal ficar por dentro da história do samba? Vem que está imperdível!
