REPÓRTER . RUBENN DEAN . MAT . 33.689-1RJ . PREVENÇÃO E TRATAMENTO
Doenças associadas à obesidade custam meio bilhão de reais por ano ao SUS
Pesquisa revela o gasto para
atender patologias relacionadas ao excesso de peso. Ministério da Saúde
lança linha de cuidados para prevenção e tratamento do sobrepeso e
obesidade.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, assinou nesta terça-feira (19) portaria que cria a
Linha de Cuidados Prioritários do Sobrepeso e da Obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS).
Dados do Ministério da Saúde revelam que o SUS gasta anualmente R$ 488
milhões com o tratamento de doenças associadas à obesidade. A nova linha
define como será o cuidado, desde a orientação e apoio à mudança de
hábitos até os critérios rigorosos para a realização da cirurgia
bariátrica, último recurso para atingir a perda de peso.
A obesidade é um fator de risco para a saúde e tem forte relação com
altos níveis de gordura e açúcar no sangue, excesso de colesterol e
casos de pré-diabetes. “Este é o momento de o Brasil agir em todas as
áreas, prevenção e tratamento, atuando com todas as faixas etárias e
classes sociais, com um esforço pra quem tem obesidade grave”, ressaltou
o ministro, durante a apresentação da pesquisa da Universidade de
Brasília (UnB), que rastreou os gastos com obesidade no SUS.
Os custos com o tratamento da obesidade grave atingem hoje R$ 116
milhões, outro dado importante apontado pela pesquisa. Foram analisados
dados de internação e de atendimento de média e alta complexidade
relacionados ao tratamento da obesidade e de outras 26 doenças
relacionadas (
ver tabela no fim do texto), entre elas isquemias do coração, cânceres e diabetes.
Levantamentos mostram que o excesso de peso e a obesidade têm crescido
no Brasil. De acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel),
realizada em 2011 pelo Ministério da Saúde, a proporção de pessoas acima
do peso no Brasil avançou de 42,7%, em 2006, para 48,5%, em 2011. No
mesmo período, o percentual de obesos subiu de 11,4% para 15,8%.
Padilha destacou que a obesidade está mais presente na população com
renda menor que três salários mínimos e com menos de oito anos de
estudo.
LINHA DE CUIDADO – A portaria prevê atividades desde a Atenção
Básica para o cuidado do excesso de peso e outros fatores de risco que
estão associados ao sobrepeso e à obesidade até o atendimento em
serviços especializados. A atenção básica vai proporcionar diferentes
tipos de tratamentos e acompanhamentos ao usuário, o que inclui também
atendimento psicológico.
“Precisamos cuidar da qualidade de vida, oferecer novos caminhos, como
alimentação adequada e atividade física. Se as pessoas com obesidade
grave ficar no estado de obesidade, ela já terá melhor qualidade de
saúde, poderá reconstruir seus hábitos de vida com uma situação
diferente”, afirmou o ministro, explicando que o atendimento será de
acordo com a realidade de cada pessoa.
A pessoa com sobrepeso (IMC igual ou superior a 25) poderá ser
encaminhada a um polo da Academia da Saúde para realização de atividades
físicas e a um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) para receber
orientações para uma alimentação saudável e balanceada. Atualmente,
82,1% dos 1.888 NASFs contam com nutricionistas, 85,7% com psicólogo e
61,6% com professores de educação física. Toda a evolução do tratamento
será acompanhada por uma das 37 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS),
presentes em todos os municípios brasileiros.
O Programa Academia da Saúde é a principal estratégia para induzir o
aumento da prática da atividade física na população. Até agora, já foram
repassados R$ 114 milhões, de um total de investimento previsto de R$
390 milhões. A iniciativa prevê a implantação de polos com
infraestrutura, equipamentos e profissionais qualificados para a
orientação de práticas corporais, atividades físicas e lazer.
Atualmente, há mais de 2,8 mil polos habilitados para a construção em
todo o país e outros 155 projetos pré-existentes que foram adaptados e
custeados pelo Ministério da saúde.
CIRURGIA BARIÁTRICA – A nova portaria do Ministério da Saúde
também reduz de 18 para 16 anos a idade mínima para realizar o
procedimento, em casos em que há risco ao paciente. A iniciativa foi
tomada com base em estudos que apontam o aumento crescente da obesidade
entre os adolescentes, como a Pesquisa de Orçamento Familiar de 2009
(POF). A POF verificou que na faixa de 10 a 19 anos o percentual de
21,7% dos brasileiros apresenta excesso de peso – em 1970, este índice
estava em 3,7%. A avaliação clínica nos jovens entre 16 e 18 anos deverá
constar no prontuário e deve incluir: a análise da idade óssea e
avaliação criteriosa do risco-benefício, realizada por equipe
multiprofissional com participação de dois profissionais médicos
especialistas na área
.
A idade máxima, que até então era de 65 anos, também foi alterada. Com a
portaria, o que determinará para o indivíduo se submeter à cirurgia não
será a idade, e sim a avaliação clínica (risco-beneficio), podendo
ultrapassar o limite atualmente estabelecido.
O documento também prevê incremento no valor pago em cinco exames
ambulatoriais pré-operatórios – os aumentos serão de 100% a 277%. A
portaria prevê ainda reajuste médio em 20% das técnicas de cirurgia
bariátrica na tabela do SUS.
Além do incremento financeiro,o SUS
passa a autorizar a realização da técnica Gastrectomia Vertical em Manga
(Sleeve), totalizando a cobertura de quatros técnicas de cirurgia
bariátrica. Também há novidade na cirurgia plástica reparadora
pós-operatória. O SUS dará cobertura para mais uma cirurgia plástica
reconstrutiva, a dermolipectomia abdominal circunferencial
pós-gastroplastia, totalizando cinco tipos de cirurgias.
AÇÕES EM DESENVOLVIMENTO – Para frear a obesidade e o
sedentarismo, que são fatores de risco importantes para doenças
crônicas, e promover hábitos de vida mais saudáveis, o Ministério da
Saúde prevê uma série de iniciativas no Plano de Ação para Enfrentamento
das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), por meio de parcerias
com o setor privado e outras pastas do governo. Lançado em agosto de
2011, o plano tem por meta reduzir em 2% ao ano a taxa de mortalidade
prematura causada por DCNT até 2022.
O ministério investe também em ações preventivas para evitar a obesidade
em crianças e adolescentes, como o Programa Saúde na Escola (PSE), que
este ano está aberto a todos os municípios e passa a atender creches e
pré-escolas. Para 2013, está previsto o investimento de R$
175
milhões. Outra medida é a parceria do ministério com Federação Nacional
de Escolas Particulares para distribuição de 18 mil Manuais das Cantinas
Escolares Saudáveis como incentivo a lanches menos calóricos e mais
nutritivos.
Para melhorar a dieta dos brasileiros e qualidade de vida, o Ministério
da Saúde firmou um acordo com a indústria alimentícia que prevê a
redução gradual do teor de sódio em 16 categorias de alimentos. A
previsão é de que, até 2020, estejam fora das prateleiras mais de 20 mil
toneladas de sódio.
A autora da pesquisa apresentada nesta terça-feira, Michele Lessa,
destacou a resposta do Ministério da Saúde à questão ao criar a linha
para prevenção e tratamento da obesidade: “A partir de dados
epidemiológicos disponibilizados pelo próprio ministério, foi possível
fazer a associação da obesidade com outras doenças para analisar o valor
gasto no SUS com o tratamento da obesidade”.
TABELA 1 - Lista de doenças relacionadas à obesidade:
Diabetes tipo 2
|
Insuficiência cardíaca congestiva
|
Dorsalgia
|
Câncer de pâncreas
|
Embolia pulmonar
|
Acidente vascular cerebral
|
Câncer do endométrio
|
Leucemia
|
Doenças isquêmicas do coração
|
Câncer de tireoide
|
Câncer renal
|
Câncer de ovário
|
Hipertensão Arterial
|
Mieloma múltiplo
|
Pancreatite
|
Câncer gástrico
|
Colelitíases e colecistites
|
Câncer de colón
|
Câncer esofágico
|
Linfoma não-Hodgkin
|
Osteoartrites
|
Câncer de mama
|
Câncer da vesícula biliar
|
Câncer de reto
|
Asma
|
Câncer de pele ( melanoma)
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